Em tempos de polarizações onde todos estão cobertos de razão, a certeza virou commodity e as dúvidas, cada vez mais desincentivadas, se tornaram raras.
Apesar dessa necessidade contemporânea de ter convicções sobre tudo, prefiro cultivar minhas dúvidas e continuar minha vidinha como discípulo de Riobaldo que certa vez sacramentou “Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa”.
Se bem que com a confusão político-econômica atual acredito que Guimarães Rosa mudaria as palavras da boca de Riobaldo e a atualizaria para “Eu quase que nada não sei. E nem consigo desconfiar de coisa alguma”.
Não é atoa que acho cômico a selvageria ideológica começar em tempo real ao fatos, no Twitter e Facebook, antes mesmo das notícias serem prensadas nos jornais. Já eu prefiro observar esses animais silvestres a uma distância segura. Claro que vez ou outra acabo participando desse zoológico mas não é assunto para esta crônica.
Meu ponto é que prefiro ficar longe do olho do furacão, esperar a Lava Jato e outros eventos recentes decantarem antes de soltar meus pitacos, que, na verdade, nem são tão interessantes a ponto de serem espalhados pelo mundo.
Mas quanto devo esperar? Um dia? Um mês? Um ano? Uma década? Talvez deva ir além e seguir os ensinamentos de Mao Tsé Tung ao responder um repórter que questionou sua opinião sobre a Revolução Francesa, que tinha ocorrido há mais 150 anos, e soltou algo como “Ainda é muito cedo. Não passou tempo suficientemente para uma análise apurada”.
Apesar de falarem que essa entrevista nunca existiu, prefiro acreditar na sabedoria da anedota.
Acha entediante e ingênuo meu posicionamento? Lembre-se que nos Trapalhões o Didi Mocó sempre se dava bem e ganhava apostas em cima das certezas do restante da trupe, que o achava inocente e bobo.
Então cuidado, enquanto você esperneia e chora pode existir um Renato Aragão capitalizando e se dando bem com sua gritaria sem você perceber.